40 anos – Salesianos de Dom Bosco Angola

Queridos irmãos e irmãs, queridos irmãos salesianos que hoje direis o vosso “SIM” para sempre ao Senhor que vos chamou.

– Nos reunimos, no Dia do Senhor, para celebrar os votos perpétuos, destes nossos 4 irmãos salesianos. Não é uma ordenação sacerdotal, é uma professão perpétua. A vida consagrada e diversa do ministério sacerdotal. O sacerdócio é um ministério que escolhe irmãos, configurando-os a Cristo sacerdote e bom pastor para guiar, formar e santificar o povo de Deus. A Vida consagrada coloca o acento na “santidade”, aprofundando a nossa consagração batismal. O essencial do religioso não está no “fazer”, no ministério que desenvolve, mas no “ser” na radicalidade de vida evangélica, que ele leva, imitando de perto a Jesus Cristo, no seu estilo de vida: obediente ao Pai, totalmente consagrado a Ele e à missão, deixando de lado os bens e os afetos que o impeçam. Este é o aspeto mais significativo que nós salesianos queremos viver com o estilo de Dom Bosco, marcado pela caridade pastoral dedicada sem limites aos jovens. Lamentavelmente nesta professão não nenhum irmão coadjutor, mas são todos clérigos, encaminhados ao ministério sacerdotal. O irmão coadjutor, toca um aspeto fundamental da nossa identidade salesiana: o sentido do trabalho, da secularidade que transforma o mundo segundo os critérios de Deus. A vocação salesiana é formada pela complementaridade das duas formas de consagração: Salesiano irmão, Salesiano Padre. Nós, não somos os “Padres salesianos” senão os Salesianos de Dom Bosco, dentro dos quais há padres e irmãos, todos unidos na mesma consagração a Deus e ao serviço dos jovens.

– Também celebramos os 40 anos da presença salesiana em Angola, que iniciou com a chegada em Angola do P. Alvino Beber no 01/09/1981, chegando a Dondo o 04/09/1981, para iniciar oficialmente o trabalho pastoral no 02/11/1981.

Quanta água tem passado nestes anos! Quantos salesianos, catequistas e membros da família salesiana tem contribuído para o bem da juventude e a evangelização em Angola. Vários salesianos missionários que já foram a casa do pai, como o P. Alvino Beber, que 40 anos atrás iniciou a nossa presença em Angola e em Dondo como o Clérigo Domingos Cassua falecido aqui em Dondo. Tantos outros que partilharam parte da sua vida nesta abençoada paróquia de N.S. do Rosário. Alguns dos pioneiros chegados entre 1981 e 1982 ainda estão no meio de nós, como o P. Milan Zednicek, P. Aurélio Neto, P. José Uría. Hoje, nestes jovens vemos como a semente do carisma salesiano tem crescido nesta bendita terra: Atualmente, com os noviços há 152 salesianos, dos quais só 28 são missionários vindos de fora e 126 angolanos, dos quais 8 são desta amada missão de N.S. do Rosário. Também Angola já tem enviado os seus primeiros seis missionários a outras nações. Louvado seja Deus! Agora com as novas presenças de Huambo e Kalakala chegamos a 13 localidades no país. E os jovens ainda nos esperam em tantos cantos do país, em tantas periferias das nossas cidades.

SALESIANOS DE DOM BOSCO

O número 40, tem um sabor bíblico que nos fala de tempo de preparação para entrar na Terra Prometida, tempo de prova, de purificação, de maturidade, de crescimento nos desígnios de Deus. Eis estes 4 jovens, frutos da Terra Prometida, como sinal de um novo início do carisma de Dom Bosco que assume um novo rosto em terras angolanas, mas que também é interpelado, como Josué, à conquista, não fácil uma exigente missão com transparência evangélica, santidade e identidade salesiana ao serviço pela salvação da juventude mais necessitada.

2) Palavra de Deus

As leituras que escutamos estão cheias de mensagens significativos para a nossa celebração

  • ✓  A primeira leitura nos oferece o rico texto dos Atos dos Apóstolos, nos quais a comunidade cristã vive o ideal da comunhão na fé e a partilha dos bens. Esse ideal continua vivo e operante nas comunidades religiosas, na Igreja Católica. Essa fé e partilha fraterna se faz testemunho crível do evangelho que atrai.
  • ✓  A carta aos Romanos, insere a vocação religiosa nas águas do batismo, no qual nos unimos à morte e ressurreição de Cristo. A vida consagrada é uma clara expressão do mistério pascal. Vivemos a morte de Cristo nas renúncias próprias da nossa vocação, mas também irradiamos a luz da sua ressurreição.
  • ✓  O Evangelho nos faz lembrar os aspetos do carisma aos quais somos mais sensíveis: “a predileção cheia de compaixão pelos pequenos; a sua solicitude em pregar, curar, salvar sob a urgência do Reino que vem; a atitude do Bom Pastor que conquista com a mansidão e o dom de si mesmo; o desejo de congregar os discípulos na unidade da comunhão fraterna” (Cost 11). Na sinagoga da sua aldeia Jesus lê o texto de Isaías no qual nos revela a consagração apostólica: Ele é ungido para uma missão. Assim os consagrados são ungidos, consagrados para uma missão particular no mundo e na Igreja.

3) O rio Kwanza uma parábola salesiana.

Celebrar a eucaristia neste belíssimo lugar, olhando o Rio Kwanza inspira-nos uma comparação, uma parábola do rio para a vida salesiana. Vos deixo 10 elementos dos rios relevantes para a nossa vida cristã e de consagrados salesianos:

  1. O rio é longo, com 960 km, nasce em Mumbué-Bié chegando até o mar. O rio tem a sua história: inicia pequeno, se faz turbulento e depois pacífico, como a partir de Dondo. Nos faz lembrar os humildes inícios da presencia salesiana em Angola e o seu destino a crescer no meio de tantas vicissitudes. Também a vida destes jovens consagrados deverá percorrer tantos lugares, passar por tantas situações, rochas, praias, quedas, mas sempre fiéis ao seu destino e ao projeto do Senhor.
  2. O rio tem valor, na medida em que conduz e enche-se de água, senão, não tem valor. Quando não, é um canal seco e vazio. Se não oferece água é como os discípulos que deixam de ser sal e luz, que não servem para nada. Na medida em que nos enchamos de Deus, seremos capazes de comunicá-lo aos demais. Não tem que ser como o rio Mucozo, um rio seco, vazío; sejam ricos de vida como o rio Kwanza. A única função e sentido do rio é levar essa água. Essa é a vossa única vocação: Levar o Senhor, à Vida a toda a humanidade.
  3. O rio é fecundo: por onde passa dá vida, faz crescer a variada vegetação. Ver o rio Kwanza atravessando o Bengo, em tempo de seca, é impressionante: Tudo é seco e triste, mas por onde passa o rio Kwanza, tudo é verde e vigoroso. Levai O Evangelho de Cristo, que as vossas palavras, ações e testemunho façam florescer a vida seca e desorientada de tanta juventude.
  4. O rio leva a água pura, transparente, casta, como canta S. Francisco de Assis, no cântico das Criaturas. Na medida que a vossa vida seja pura, transparente, pura e casta, assim como as águas

procuradas, será mais apreciada, saudável e procurada. Estes jovens renunciam a formar as suas próprias famílias, para estar mais disponíveis para amar sem limites, a quem deles precisar, a quem caminha sedento de um amor verdadeiro, duma amizade autêntica, que mude e dê sentido a sua vida.

  1. O rio se oferece gratuitamente a todos: ao cacusso, ao jacaré, ao pescador e ao pássaro e as plantas. Se ele quisesse conservar a água para si, esta ficaria estanhada e com o tempo contaminada. A sua riqueza consiste em dar-se totalmente e a todos sem reservas e escolhas. O religioso faz voto de pobreza, que não significa ser mesquinhos, miseráveis, mas ter uma generosa capacidade de entrega, de partilha de tudo: de seus bens, do seu tempo, dos seus talentos, como expressão de um amor total e livre.
  2. O rio é humilde e obediente: Pela misteriosa lei da gravidade, procura sempre descer, obedece sem protestar o desígnio do seu Criador e deixa-se levar por esta lei impressa no seu ser. Assim também o religioso vive o voto mais importante: a obediência, como expressão da sua totalidade disponibilidade e docilidade ao projeto de Deus, e não do seu projeto pessoal.
  3. O rio vai aos últimos: O rio pela sua natureza tende ao mais baixo, nunca procurar subir, só descer, no seu caminho dá vida a todos, mas tende a levar o seu ser aos últimos. Que bonita opção pastoral do rio: o Salesiano, por natureza procura os jovens mais necessitados. Não exclui a ninguém, mas sente-se sempre atraído pelos últimos, pelos mais desfavorecidos.
  4. O rio é manso: Particularmente, após Dondo, o rio Kwanza é sereno e pacífico. As suas águas cheias de bondade, serenidade e doçura banham em forma quase impercetível as margens do rio. Que diria São Francisco de Sales, o santo da mansidão e da doçura, que gostava tanto das comparações da natureza para a vida espiritual? Estes jovens consagrados são Salesianos para sempre: homens bons, mansos, capazes de dar a conhecer e imitar o Sagrado Coração de Jesus, bom e misericordioso, manso e humilde.
  5. O rio é constante e permanente: Discretamente, impertérrito, cada dia, em cada instante realiza a sua missão de levar água. Só Deus sabe, faz quantos milhares de anos este rio é fiel a sua missão. Assim também nós somos chamados a sermos fiéis e perseverantes em realizar a nossa missão de dar vida até o fim.
  6. Orio,porfim,éesabeondeelevai:ChegaráàBarradoKwanza.Oesperaasuameta:oinfinitomar. A nossa vocação cristã, a vida consagrada, nos indica o nosso destino final: Deus, a comunhão para sempre com ele; os valores definitivos. A vida consagrada fala-nos das realidades definitivas e eternas.

Que Mamã Muxima, desde o seu santuário, testemunho silencioso, desde mais de quatro séculos, deste rio, acompanhe, proteja e cuide o coração de consagrados dos nossos quatro salesianos na sua vocação e missão. Ela, os santos salesianos e cada um de nós os ajudemos a ser fiéis.

Padre Martín Lasarte, Superior da Visitadoria Salesiana – Mamã Muxima.

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